quinta-feira, 9 de abril de 2009

As fertilidades do solo II.

Simultaneamente, o conjunto de características químicas e físicas de um solo faz com que este seja mais ou menos satisfatório para o desenvolvimento de uma dada espécie vegetal, ou seja, a fertilidade química do solo (disponibilidade de nutrientes) combinada à fertilidade física do solo (porosidade, estruturação e consistência).

 

Entendamos o solo como um sistema trifásico (sólido, líquido e gasoso), onde um dado equilíbrio entre essas três fases é essencial ao desenvolvimento vegetal.

 

A fase sólida conota aos constituintes minerais (minerais de areia, silte e argila) e orgânicos do solo. Na fase líquida temos onde as reações dos solos acontecem, reações de hidrólise de minerais que liberam nutrientes às plantas e, a água como veículo de transporte que leva os nutrientes até as raízes das plantas, por exemplo, e a fase gasosa, que divide temporalmente o volume de poros do solo com a fase líquida, é a atmosfera do solo, o que permite as raízes respirarem.

 

Tecnicamente, a fertilidade química do solo esbarra-se no conceito de solo eutrófico (derivado do grego, “com seu próprio alimento”), que aqui para nossas realidades de trópicos e subtrópicos, com solos que em sua grande maioria experimentaram intensas atividades de intemperismo ao longo do tempo e, portanto, de perdas intensas de nutrientes, são considerados solos férteis aqueles que apresentam caráter denominado de eutrófico, que é saturação por bases (V) ≥ 50 %.

 

A V é definida como sendo igual a {100 x [(Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+)] / {[(Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+) + (H + Al)]}, expressa em porcentagem. (Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+) é a soma de bases (SB), (H + Al) é a acidez potencial, e o denominador da equação para se chegar em V, [(Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+) + (H + Al)], é a capacidade de troca catiônica a pH = 7,00 (CTC pH 7,00 ou T).

 

Tanto a SB, acidez potencial e a T são atualmente expressas em cmolc/dm3 (centimol de carga do nutriente por decímetro cúbico da amostra de solo). Em outras palavras, V (V = 100 x SB / T) indica a porcentagem de cargas eletronegativas dos solos que estão sendo ocupadas com bases (Ca2+ + Mg2+ + K+ + Na+) frente ao potencial todo de cargas eletronegativas que os referidos solos têm em pH neutro (pH = 7,00).

 

Geralmente também, quando as cargas eletronegativas dos solos não estão sendo neutralizadas por bases (cátions como Ca2+, Mg2+, K+ e Na+), estão sendo por prótons H30+ ou Al3+, sendo então V uma ferramenta interessante para medir-se de fertilidade química do solo, pois em outras palavras indica a proporção de algo que seria bom em relação ao todo. Não em vão que se considera a presença abundante de minhocas em um dado solo é um bom indicador de fertilidade do mesmo, pois estes anelídeos são em geral bastante exigentes em nutrientes como Ca, Mg e P.

 

A fertilidade física envolve principalmente as propriedades de porosidade, estruturação, agregação e consistência dos solos.

 

Solos muito coesos, por exemplo, dificultam ou até mesmo inibem o aprofundamento do sistema radicular de algumas espécies vegetais, e com isso elas exploram uma camada reduzida de solo, limitando assim sua aquisição de água e nutrientes.

 

As plantas são também dependentes de aeração no sistema radicular proporcionada pela porosidade, que por sua vez é uma expressão das características de agregação e estruturação do solo.

 

Agregação do solo é a união das partículas primárias dos solos (areia, silte e argila) formando complexos que de certa forma imitam as propriedades das partículas de tamanho maior, por exemplo, um solo bastante argiloso, mas bem agregado, onde predominam agregados de argila em dimensões de grãos de areia, é um solo bastante poroso e permeável em relação a um solo com a mesma porcentagem de argila mas com a agregação incipiente. A razão disso é que as partículas maiores (grãos de areia ou agregados de argila) encaixam-se umas nas outras de maneira menos rente do que partículas menores (argilas simplesmente) encaixam-se entre si, resultando em poros maiores ao longo dos solos.

 

O micro influencia no macro, os agregados menores influenciando na forma dos agregados maiores que por sua vez influenciam na estruturação do solo. Se um solo é pouco agregado e bastante argiloso, e se as partículas de argilas estão bem organizadas (leia-se orientadas no mesmo sentido) encaixando-se bem entre si, o solo tende a ser bastante coeso quando seco, daqueles que não se consegue quebrar os torrões usando as mãos, e com poucas raízes vistas ao longo da profundidade.

 

A partir daqui falaremos de fertilidade natural e fertilidade construída.

2 comentários:

msg disse...

Marcus Locatelli

Em primeiro lugar,os meus parabéns por mais este seu blogue. Faço votos para que consiga o que pensou dele.
Sou também agrónomo,um agrónomo doutros tempos. Tinha também a sua idade quando iniciei as lides,que se prolongaram por muitos anos. E comecei com "Um caso de carência de manganésio",em videiras,que estou,não sei bem porquê,a referir em blogue.Coisas de velhos,tem de se lhe dar o desconto.
Ah,sou o manuel no Geófagos.
Mais uma vez,os meus parabéns,e os desejos de muitos sucessos.

Marcus V. Locatelli disse...

Manuel, obrigado por inaugurar a sessão de comentários!!!!
É uma honra pra mim sua visita, e espero lhe agradar com os próximos posts.
Abraços